Natação australiana faz história em Sydney 2000

Revezamento australiano comemora vitória histórica no 4x100m / Foto: Getty Images

Rio de Janeiro - A partir desta segunda-feira, no Esporte Alternativo, você vai acompanhar 10 momentos históricos incríveis dos Jogos Olímpicos, com detalhes das provas, imagens e vídeos com a captura das cenas que marcaram para sempre o mundo do esporte. 
 
Nesta semana o destaque é para a natação e o revezamento masculino 4x100 m. A prova, até os Jogos de Sydney 2000, era literalmente uma propriedade americana. Disputada pela primeira vez nos Jogos de Tóquio, em 1964, o revezamento 4x100m estilo livre havia sido conquistado todas as sete vezes em que foi disputada pelos Estados Unidos (a prova não esteve nas Olimpíadas de 1976 e 1980). 
 
Nos Jogos de 1984, a seleção australiana de natação já havia chegado perto de bater a equipe americana quando finalizou em segundo lugar a prova. Mas ainda faltava provar ao mundo que a natação australiana poderia liderar uma prova olímpica de revezamento, mostrando que uma equipe masculina de natação deles poderia superar a histórica hegemonia dos Yankes. 
 
Acontece que nos Jogos de Sydney 2000 não só os americanos e australianos estavam com tudo em busca de uma medalha. Talvez pela primeira vez na história tantas equipes de revezamento nadariam tão bem em uma prova olímpica. Além de Ian Thorpe, o "torpedo", como já era conhecido na Austrália e Gary Hall Jr. pelos EUA, a Rússia tinha o lendário Aleksandr Popov, a Suécia o mais do que credenciado para uma medalha Lars Frolander e o Brasil, único representante da América Latina na final, nada mais nada menos que Gustavo Borges, conhecido nos EUA como o "rei do revezamento".
 
Piada gera polêmica e rivalidade se acirra ainda mais
 
A expectativa para a disputa da prova em Sydney era tão grande que a imprensa procurava acalorar os ânimos com matérias especiais e entrevistas cada vez mais provocativas com os atletas de ambas as equipes. Uma suposta piada escrita por Hall Jr em relação à Austrália pôs ainda mais lenha na fogueira quando a CNN/Sports Illustrated resolveu publicar a história.
 
"Eu gosto da Austrália, de verdade. Gosto dos australianos. O país é lindo e as pessoas são admiráveis. Bom humor e gentileza parecem ser características predominantes. Mas minha opinião tendenciosa diz que nós vamos esmagá-los como guitarras. Historicamente os EUA sempre ascendem na ocasião certa", escreveu o americano. 
 
A imprensa australiana e os australianos ficaram extremamente exaltados com a piada de Gary Hall Jr e a consideraram de extrema arrogância. Isso serviu para inflar ainda mais os ânimos de ambas as equipes para a prova. 
 
Chegado o derradeiro dia, 16 de setembro de 2000, 17.500 pessoas se apertavam no Centro Aquático para ver a história sendo escrita nos Jogos Olímpicos. Milhões de pessoas vendo em casa e curiosos para saber como Ian Thorpe nadaria sua última prova de 400m. 
Estabelecidas as respectivas largadas de ambas as equipes, houve uma mudança de nome nos EUA de última hora. 
 
Confira como ficaram as disputas:
 

Equipe australiana posa com faixa em agradecimento à torcida Australiana / Foto: Olympics / IOC

Klim vs. Ervin
 
Walker vs. Fydler
 
Lezak vs. Callus
 
Thorpe vs Hall Jr
 
Curiosidade
 
Uma curiosidade minutos antes do início da prova envolvendo Ian Thorpe supreendeu a todos. Ao contrário de seus compatriotas, que tiveram seus nomes ouvidos e aclamados pelo público presente no Centro Aquático enquanto se dirigiam à piscina, o "torpedo" teve um problema com sua roupa e, com a ajuda de outras quatro pessoas, ainda lutava para se vestir a tempo, enquanto todos os outros nadadores já aguardavam na beira da piscina. 
 
Finalmente, a disputa
 
Roupa colocada e sinal dado, teve início a maior prova do revezamento olímpico na natação até hoje. Com uma largada perfeita, Klim, pela Austrália, já havia estabelecido meio corpo de vantagem sobre o americano Ervin após 15 segundos de prova. Na primeira parcial não havia dúvida: era a Austrália quem estava esmagando os EUA, com um tempo abaixo do recorde mundial: 48.18s contra 48.89s (o recorde era de 48.21s). 
 
Então era a vez de Fydler e Walker deixarem sua marca na piscina australiana. O australiano saiu bem nos primeiros 50m, mas na última metade de suas braçadas, Neil Walker retomou a liderança. Esse certamente seria o momento, em provas anteriores, em que os EUA partiriam para a liderança definitiva, tomando uma diferença irrecuperável para o segundo colocar. Mas isso não aconteceu, Fydler respondeu à altura, impulsionado pelos gritos da torcida australiana. Ambos ficaram distantes 0.17s, com 48.31s para o americano e 48.48s para Fydler. 
 
Na penúltima parcial, Lezak pelos americanos e Callus pela Austrália perpetuaram o princípio de domínio do Tio Sam na parcial anterior. Mas Callus manteve um bom ritmo, finalizando poucos centésimos atrás (48.71s 48.42s). O suficiente para entregar para Thorpe brigar pau a pau com o quarto americano do revezamento, Gary Hall Jr, ele mesmo, autor da piada não tão engraçada sobre como ele e seus compatriotas esmagariam os australianos "como guitarras". Era tudo o que o Torpedo precisava. 
 
No pódio, Austrália, Estados Unidos e Brasil / Foto: Reprodução / YouTube
A pressão que todo o mundo havia colocado sobre a Austrália, sede dos Jogos Olímpicos, na prova mais emblemática da natação para o país até então, ficou toda fora da piscina. Só se ouviam os gritos entusiasmados das 17 mil pessoas, em sua maioria a favor dos donos da casa, para que Thorpe escrevesse a história. 
 
Atrás de Hall praticamente durante a ida e a volta na piscina, Thorpe ativou o modo "torpedo" nos 25m finais e, inexplicavelmente, por 0.60 segundos, conquistou a primeira medalha de ouro da história do revezamento 4x100m masculino para a Austrália, a primeira para um país que não fosse os Estados Unidos. Os australianos faziam história também com um novo recorde mundial, de 3.13.67s, pulverizando o recorde anterior, dos EUA, de 3.15.11s. 
 
Também inexplicavelmente o Brasil, que havia se classificado em quinto lugar nas eliminatórias e, na terceira parcial, permanecia em quinto, viu Edvaldo Silva Filho, o baiano Bala, correr para a medalha de bronze, finalizando o pódio impensável há alguns anos atrás. Fernando Scherer, Gustavo Borges e Carlos Jayme compunham a equipe junto com Bala. 
 
Restou a Gary Hall Jr. uma espécia de mea culpa e um reconhecimento da magneficência de Ian Thorpe. "Eu nem sei como tocar guitarra", brincou primeiro, em referência à polêmica piada feita dias antes. "Mas considero essa a melhor prova de revezamento que eu já pude fazer parte. Tiro meu chapéu para o incrível Ian Thorpe. Ele nadou melhor que eu", concluiu o americano, rendido à superioridade dos donos da casa. 
 
Nas disputas olímpicas do revezamento 4x100m seguintes, o Brasil não conseguiu manter a posição e não chegou a consequir sequer uma classificação para a final. 
 
Em contrapartida os americanos abriram de vez mão da hegemonia da prova, ficando com o bronze em Atenas 2004, ano em que a África do Sul levou o ouro e a Holanda, a prata. Em Pequim 2008, voltaram ao topo, com a Austrália em terceiro e a França, em segundo. França esta que subiria um degrau a mais no pódio de Londres 2012, conquistando seu primeiro ouro olímpico na história da prova, deixando para trás Estados Unidos (2º) e Rússia (3º). 
 
Confira o vídeo completo da disputa histórica:
 

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