Brasileiro "mergulha" para melhor marca da carreira: 'dei 150% de mim'

Desequilíbrio de João Victor no fim foi esforço para diminuir seu tempo / Foto: Getty Images

Pequim - João Vitor de Oliveira quase desistiu do esporte, no ano passado. Sem conseguir boas marcas os 110m com barreiras, o atleta se viu praticamente fora quando, por incentivo de um amigo, resolveu arriscar: vendeu tudo o que tinha para treinar nos Estados Unidos. O resultado veio a cavalo, dez meses depois. 
 
Nesta quinta-feira, no mundial de Pequim, João alcançou sua melhor marca da carreira na semifinal da prova, 13s45. O feito foi uma vitória para ele, que já havia se destacado ao alcançar índices não só para o mundial como também para as Olimpíadas. 
 
"Foi exatamente tudo o que eu esperava. Eu cheguei aqui com 13s47 e fiz o índice para o Mundial Indoor. Acho que esse resultado mostra o meu esforço e a competência do meu treinador. Cheguei aqui em 40º, agora sou o 18º (no geral)", relata o atleta. 
 
O mergulho que o atleta deu quando chegou perto da linha de chegada, para melhorar seu tempo, custou certo preço. O esforço lhe rendeu um desequilíbrio, seguido de uma queda, com a costela machucada. 
 
"O mergulho resume tudo isso, é o último suspiro, a última tentativa, a prova de que eu acredito até o final. Se eu achasse que não ia passar, poderia não fazer o esforço. Mas isso não é da minha personalidade, do meu espírito atlético. Eu sempre me jogo. Eu seria medíocre se não desse 150% de mim. 100% todo mundo dá", destaca. 
 
João, depois de sete anos vivendo como atleta profissional e há três se frustrando com seus resultados, chegou a reunir a família e anunciar o fim de sua carreira. Um amigo, porém, lembrou que, em 2009, a fundação de Zequinha Barbosa, medalhista mundial na década de 80, havia convidado ele para treinar nos EUA na época. 
 
Agora foi a vez do atleta procurar o treinador e assim iniciarem o trabalho, em setembro de 2014. A ida para lá custou seu carro, computador, móveis e até roupas. Zequinha o abrigou em sua casa.  
 
"Em 10 meses de treinamento fui campeão do Troféu Brasil, fui à seleção no sul-americano, fiz os índices e estou aqui conseguindo mostrar meu trabalho. Em 12 meses minha vida mudou. Hoje sou o cara mais feliz do mundo, não só por estar aqui, mas por saber que todo nosso esforço está dando certo", conclui.
 
O técnico se orgulha do feito. "O que a gente fez em 10 meses é coisa de quem quer muito que logo dê certo. Juntamos a fome com a vontade de comer. Ele é um garoto muito dedicado e teve que ter um amadurecimento rápido no ano rendimento. Tem muita determinação, que fez com que ele conseguisse superar saudade da família, a barreira da língua", lembra. 
 
Para Zezinho, João hoje é praticamente um filho dele. "Nunca o tinha visto correr, só o conhecia por foto. Estudei por meses para conhecer melhor as barreiras, e iniciamos uma troca. Ele ia me ensinando um pouco, eu passava o melhor condicionamento para ele, e assim fomos crescendo juntos. Hoje sou amigo, pai, cozinheiro, massagista, psicólogo, motorista, nutricionista, ajudo financeiramente dentro do que posso", finaliza o brasileiro.
 
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