Bronze olímpico do Brasil em Tóquio completa 53 anos

Equipe perdeu para o Peru na estreia, mas se recuperou e trouxe a medalha para casa / Foto: Arquivo CBB

São Paulo - A data que ficou marcada: Jogos Olímpicos de Tóquio, outubro de 1964. A seleção brasileira adulta masculina chegou à capital do Japão com o status de bicampeã mundial (Chile/1959 e Brasil/1963) e uma das favoritas à conquista de uma medalha olímpica.
 
O esquadrão nacional, formado por Amaury Pasos, Ubiratan Maciel, Wlamir Marques, Edvar Simões, Jatyr Schall e companhia, era respeitado pelos adversários. Mas, logo na estreia, no dia 11, veio o susto com a derrota inesperada para o Peru por 58 a 50. Mas a equipe comandada pelo técnico Renato Brito Cunha se levantou e trouxe para a casa a medalha de bronze.
 
Amaury Pasos, que havia brilhado no Mundial disputado no Rio de Janeiro, em 1963, era um dos líderes da equipe. Ele admite até hoje que não ficou conformado com a medalha de bronze. 
 
“Faltou algo mais porque sabíamos que a medalha de prata era possível. Fizemos até um jogo muito bom contra a Rússia na semifinal, mas perdemos por seis pontos (53 a 47). Foi uma partida incrível porque conseguimos jogar com igualdade de condições contra os russos. Ficamos na frente do marcador, mas perdemos a chance de brigar pelo ouro nos pequenos detalhes. Tivemos que brigar pelo bronze contra Porto Rico (76 a 60) e ganhamos”, disse Amaury.
 
Considerado um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, Wlamir Marques também foi um dos destaques na conquista da histórica do título. A façanha que completa 53 anos nesta segunda-feira (23) é relembrada pelo atleta que ficou conhecido como "Diabo Loiro".
 
“Aquela foi a primeira seleção sob o comando de Renato Brito Cunha, que nos anos anteriores havia sido o assistente do Kanela (Togo Renan Soares). Acredito que por isso não houve modificações na forma de comandar, nem na equipe. Renato fez um belo trabalho e comandou aquele grupo extremamente talentoso rumo a Tóquio", lembrou.
 
Wlamir destacou a importância da preparação realizada no Rio de Janeiro e dos amistosos contra França e Peru antes da Olimpíada. "Foram cerca de 40 dias de treinamento duas vezes ao dia, quase sempre no ginásio do Tijuca (RJ), mas ficávamos concentrados no Hotel das Paineiras. Antes de chegar a Tóquio, fizemos uma parada na França e vencemos um amistoso contra os franceses. Antes da estreia, já em Tóquio, também enfrentamos o Peru e ganhamos por cerca de 20 pontos de vantagem. Estávamos taticamente preparados para a disputa olímpica", contou.
 
Desde a derrota na estreia para os peruanos até a vitória sobre Porto Rico, que garantiu ao país a terceira medalha olímpica do basquete masculino, alguns dos heróis daquela conquista não esquecem os momentos importantes.
 
“Na Olimpíada de Tóquio, mesmo o basquete sendo bicampeão mundial, todas as fichas em medalhas eram para o futebol, que havia levado uma equipe muito boa, inclusive com Gérson, o canhotinha de ouro. Mas quem deu medalha foi nossa equipe”, lembra o ala Jatyr Eduardo Schall, um dos jogadores mais talentosos da época.
 
“Aquela conquista foi muito bacana. Poderia ter sido prata, mas o bronze foi aonde conseguimos chegar. O ouro era impossível de ganhar, pois os Estados Unidos levaram uma grande seleção e muitos jogadores foram profissionalizados logo em seguida pela NBA”, lembrou Jatyr.
 
O professor Renato Brito Cunha foi o técnico da Seleção Brasileira. Ele recorda que teve muitos problemas para reunir toda a equipe, que praticamente se juntou no aeroporto. Hoje, com uma memória fantástica, o ex-técnico fala com orgulho da campanha e diz como encarou a responsabilidade de substituir o Kanela no comando da seleção.
 
“Também acho que poderíamos ter feito a final contra os Estados Unidos. Perdemos da Rússia nos detalhes, mas prefiro falar das vitórias, da partida contra a Iugoslávia, em que vencemos por 68 a 64, e depois contra Porto Rico. Dessa partida lembro que os poucos jornalistas brasileiros que estavam lá em Tóquio não acreditavam que poderíamos vencer. Eles ficaram presos no resultado dos porto-riquenhos contra os Estados Unidos, uma derrota por um ponto, e chegaram a divulgar notícias de que o bronze era de Porto Rico. Eu tinha sido assistente técnico do Kanela (Togo Renan Soares) na Olimpíada de Roma, em 1960, quando conquistamos o bronze. E também já tinha sido técnico da Seleção em alguns jogos. Não teve problema porque eu tinha gabarito para assumir a função”, contou.
 
O ex-técnico da Seleção não cansa de elogiar a dupla Amaury e Wlamir, mas recorda-se de que a equipe teve dois outros jogadores fundamentais na conquista da medalha. 
 
“O Edvar Simões acabou com o armador de Porto Rico e marcou como ninguém. E o Jatyr, com sua categoria, foi fundamental no ataque, especialmente nas vitórias contra a Iugoslávia e Porto Rico. E, assim, o basquete brasileiro trouxe a única medalha para o Brasil nos Jogos de Tóquio”, finalizou.
 
Delegação: 
 
Amaury Antonio Pasos (94pts / 9 jogos), Antonio Salvador Sucar (37pts / 9j), Carlos Domingos Massoni "Mosquito" (39pts / 9j), Carmo de Souza "Rosa Branca" (51pts / 8j), Edson Bispo dos Santos (33pts / 9j), Friedrich Wilhelm Braun "Fritz" (11pts / 5j), Jatyr Eduardo Schall (35pts / 8j), José Edvar Simões (16pts / 4j), Sérgio Toledo Machado "Sérgio Macarrão" (8pts / 6j), Ubiratan Pereira Maciel (87pts / 9j), Vitor Mirshauswka (56pts / 9j) e Wlamir Marques (128pts / 9j). Técnico: Renato Brito Cunha. 
 
Campanha:
 
Brasil 50 x 58 Peru (dia 11 de outubro)
Brasil 68 x 64 Iugoslávia (dia 12)
Brasil 92 x 65 Coréia do Sul (dia 13)
Brasil 61 x 54 Finlândia (dia 14)
Brasil 80 x 68 Uruguai (dia 16)
Brasil 53 x 86 Estados Unidos (dia 17) 
Brasil 69 x 57 Austrália (dia 18)
Semifinal
Brasil 47 x 53 União Soviética (dia 21)
Disputa do bronze
Brasil 76 x 60 Porto Rico (dia 23)

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