Investimentos na canoagem levam modalidade a novo patamar

Canal de Itaipu: bombeamento de água permite treinos da seleção o ano inteiro / Foto: Danilo Borges / Brasil 2016 / ME

Rio de Janeiro - Os investimentos em atletas, equipes técnicas e estrutura da canoagem brasileira começam a dar resultados. A nova geração de canoístas conseguiu um resultado histórico para o país ao alcançar seis finais e conquistar uma prata e três bronzes no Campeonato Mundial de Canoagem Slalom Júnior e Sub 23, que terminou no último domingo (26.04) em Foz do Iguaçu (PR). O próprio Canal de Itaipu, local das disputas, integra as ações para desenvolvimento da modalidade. É lá que a seleção permanente, composta por 24 competidores, treina.
 
“O resultado é surpreendente, até mesmo para os mais otimistas como nós. O Brasil nunca chegou a tantas finais. Em 2007, realizamos o Mundial Sênior aqui em Foz do Iguaçu e não conseguimos nem passar perto de uma final. Agora, alguns anos depois, a canoagem passou de um patamar para outro”, afirma Argos Rodrigues, superintendente da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa).  
 
Ele também atribui o crescimento da modalidade às condições oferecidas no Canal de Itaipu e projeta o legado que será deixado com as Olimpíadas. “Com o canal no Rio de Janeiro (na região de Deodoro), o Brasil terá dois canais artificiais de nível olímpico e isso é muito bom. A nossa canoagem tem se desenvolvido e está começando a brigar de igual para igual com outros países. Hoje, as competições internacionais são em canais artificiais. O movimento da água é totalmente distinto de um rio. E aqui é considerado pela Federação Internacional uma das dez melhores pistas do mundo”, afirma Rodrigues.
 
Para o secretário executivo do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, estruturas como a de Foz do Iguaçu são fundamentais para que o país possa receber eventos internacionais. “O Ministério tem insistido com as confederações sobre a importância destes mundiais, sub 19, 21, 23. São eventos mais baratos e internacionais, que contam com toda qualidade e técnica. Estes campeonatos permitem que desde cedo os atletas tenham esse intercâmbio. E fazer em casa inclui o fator psicológico. O atleta compete na pista que conhece. Os outros países se beneficiam desse fator e o Brasil começa a se beneficiar”.
 
Multidisciplinar
 
Pela Lei de Incentivo ao Esporte, o BNDES dá suporte aos atletas com a formação de equipes multidisciplinares (técnicos, fisioterapeutas, médicos, fisiologistas, nutricionistas) e com a logística necessária aos treinos e competições. “Nosso apoio à canoagem se dá na parte de infraestrutura. Ajuda a manter os atletas concentrados, oferece os equipamentos necessários, nutrição, preparação física, treinadores e também participação em campings internacionais e na realização de competições como esse Campeonato Mundial. Somente em 2014 investimos R$ 14 milhões”, afirma Gustavo Borges, superintendente da presidência do banco.
 
O técnico da equipe permanente do Brasil, Ettore Ivaldi, foi contratado dentro dessa estratégia. Italiano, ele tem experiência em sua terra natal e em outros países europeus como a Espanha e a Irlanda e ressalta a qualidade do projeto brasileiro. “É um orgulho trabalhar com a equipe do Brasil, porque acho um projeto muito interessante, com jovens valores e objetivo de Olimpíadas. Também é importante para a Canoagem Slalom, em geral, que a América Latina pratique este esporte, que tem mais tradição na Europa. Esse esporte necessita de um pouco de globalização”, comenta o treinador, que assumiu o cargo em 2011 e vê um crescimento rápido dos atletas. “Necessitamos de tempo, mas se tudo tiver continuidade, seguramente o Brasil estará competitivo. Aqui alcançamos seis finais e é um resultado importante em pouco tempo”.
 
O governo federal tem aproveitado os megaeventos sediados pelo país, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, para requalificar a infraestrutura esportiva do país. Por meio do Plano Brasil Medalhas, uma Rede Nacional de Treinamento está sendo montada e os atletas estão recebendo bolsas para se concentrarem em treinos e competições. No total, 439 canoístas recebem a Bolsa Atleta (331 na categoria nacional, 89 na internacional e 19 na base) e sete contam com o apoio da Bolsa Pódio, incluindo Ana Sátila. “Antes não tinha tanto apoio como agora. Posso estar no padrão e nível técnico dos atletas internacionais. Isso é o que busco fazer com o dinheiro: melhorar na categoria e ter os melhores equipamentos para competir bem”, afirma a canoísta de 19 anos, prata no K1 sub 23 do Mundial deste ano.
 
Canal de Itaipu
 
O local abriga o Centro Nacional de Treinamento da modalidade. O Ministério do Esporte repassou R$ 3 milhões à prefeitura para a implantação da unidade de bombeamento de água no complexo Parque da Barragem. As três bombas evitam que possíveis secas no reservatório de Itaipu, na divisa com o Paraguai, impeçam a prática esportiva. “Nós já utilizávamos o canal em Itaipu, mas tínhamos um problema que na época de seca: o nível da represa não permitia a utilização do canal. Este ano, fizemos o investimento na compra das bombas, que tem garantido a competição. E mais do que isso, garante que a equipe possa treinar o ano inteiro”, explica Ricardo Leyser.
 
Quando a quantidade de água reduz e a vazão não é suficiente para alimentar o canal, os equipamentos levam a água do Lago de Itaipu, através de dutos de até 100 metros, para o local de treinos e competição. O canal conta com obstáculos naturais e artificiais, permitindo a modulação das correntezas. O circuito tem 430 metros de extensão, largura que varia entre oito e 25 metros e profundidade média de 1,2 metros. Antes do Mundial Júnior e Sub 23, o local já havia recebido o Mundial de Canoagem Slalom Sênior 2007 e o evento classificatório para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
 
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