Quenianos dominam a Volta da Pampulha em Belo Horizonte

Barnabas foi bicampeão / Foto: Sérgio Shibuya / ZDLBelo Horizonte - Barnabas Kiplagat e Nancy Jepkosgei Kitur, ambos do Quênia, foram os campeões da 13ª edição da Volta da Pampulha, na manhã de domingo, dia 4 de Dezembro, em Belo Horizonte (MG).

Com o resultado, o queniano sagrou-se bicampeão da prova e Nancy, tricampeã. Este foi o quarto ano consecutivo que atletas africanos garantem o lugar mais alto do pódio. Os brasileiros Damião Ancelmo de Souza e Sueli Pereira Silva vieram logo atrás dos estrangeiros, conquistando a prata. A tradicional prova, uma das cinco mais importantes do Brasil, soma 17,8 quilômetros no entorno da Lagoa da Pampulha, cartão postal da capital mineira.

A novidade desta edição foi o horário da largada, às 8 horas, uma hora mais cedo do que nos anos anteriores. A prova da Elite Masculina foi bastante disputada e decidida apenas nos metros finais. Entre os 56 atletas que largaram, quatro não eram brasileiros. Logo se formou o pelotão principal, que se distanciou do restante dos corredores. O ritmo foi bem puxado durante toda a corrida e, a partir do quilômetro 16, ficou ainda mais rápido, liderado pelo queniano Barnabas Kiplagat, da equipe Fila. Apesar do esforço dos brasileiros Damião Ancelmo de Souza, Paulo Roberto Almeida Paula e Giomar Pereira da Silva, que estavam na cola do africano, acabou dando Quênia mais uma vez, com apenas quatro segundos de vantagem sobre o segundo colocado.

"Foi uma corrida muito difícil para mim. Apesar de ter me preparado bem, o ritmo foi muito forte, o tempo inteiro. A parte mais complicada foi quase no final, faltando cerca de dois quilômetros, quando os adversários começaram a correr mais rápido, me forçando a ir também. Mas estou muito feliz", contou Barnabas Kiplagat, que fez o tempo de 53m09s, quase um minuto a menos do que na última edição, na qual também foi ouro. O queniano é presença confirmada na São Silvestre, dia 31 de dezembro, nas ruas de São Paulo (SP).

Melhor brasileiro na prova, o segundo colocado Damião Alcelmo de Souza, que ficou apenas 4 segundos atrás do ouro, estava radiante. "Fiquei muito satisfeito com o resultado. Eu vim para ganhar e quis usar uma estratégia diferente, que era sair melhor que os quenianos e conseguir imprimir o meu ritmo para a prova. Mas o Barnabas veio surpreendendo a disputa inteira e, ali no finalzinho, teve mais gás. Estou contente porque foi uma grande corrida e fiz o meu melhor tempo", afirmou Damião.

Há três anos participando da Volta da Pampulha, Damião vem melhorando seus tempos e colocações. "Em 2009, fiquei em 8º, em 2010, em 3º e, agora, em 2º. Ano que vem, com certeza, estarei aqui e, se Deus quiser, vou ganhar é o ouro. Agora, o foco é totalmente para a São Silvestre. Farei o meu melhor para dar orgulho aos brasileiros", disse o corredor da equipe Pé de Vento, que é alagoano e só começou a correr com 23 anos, depois de trabalhar anos "na roça".

Paulo Roberto Almeida Paula, do Cruzeiro, ficou milésimos atrás de Damião e também comemorou o resultado. "Fiquei bem satisfeito com o tempo e a corrida que fiz. Foi bastante disputada e com o ritmo muito forte. Consegui representar bem a minha equipe e o Brasil", explicou.

Passeio da queniana - Com temperatura na casa dos 22 graus, às 7h45, foi dada a largada para o grupo de elite feminino. Tentando quebrar a hegemonia queniana das quatro últimas edições, as brasileiras seguiram firme no pelotão de elite. Porém, logo nos primeiros cinco quilômetros, Nancy Kipron, que mirava o recorde e o tricampeonato da prova, se distanciou do grupo e apenas administrou o restante da disputa, conquistando o ouro, com o tempo de 1h02m41s.

"Até que não consegui melhorar muito o meu tempo. Mas fiquei satisfeita com o primeiro lugar. Eu vim para ganhar a prova e queria bater o recorde, mas faltou alguém para me forçar a aumentar o ritmo. Comecei correndo bem rápido, mas, já quilômetro oito, estava sozinha. Não tinha mais ninguém do meu lado. Então, a partir do 10, diminui a velocidade e apenas administrei", afirmou a tricampeã, que corre há cerca de dez anos. Para a Volta da Pampulha e a São Silvestre, a atleta vem treinando há três meses no Quênia e há apenas três semanas no Brasil.

A briga para conquistar os outros lugares do pódio ficou entre brasileiras Sueli Pereira Silva, Tatiele Roberta de Carvalho e Marily dos Santos, e a queniana Jacklyne Chemwek. Em um sprint final, Sueli Pereira Silva se distanciou do grupo e conseguiu repetir o feito de conquistar a prata, assim como já havia feito em 2008.

"Foi uma prova difícil, mas, ao mesmo tempo, mais tranquila, no geral. Depois do quilômetro 10, ficou um pouco mais forte e procurei permanecer no pelotão da frente. Fui melhor do que esperava porque não considero que me preparei muito bem, já que meu objetivo mesmo é a São Silvestre. Estava cansada de outras provas, mas cheguei e até pódio conquistei", falou a atleta, que correu a Volta em 1h03m28s.

Sueli, que hoje tem 34 anos, teve um ano muito bom, com muitos ouros para seu currículo. A atleta começou a correr tarde, há 12 anos, por incentivo do marido e técnico, Ronaldo Quirino Morais. "Ele já corria e sempre me chamava para ir com ele. Não tinha muita animação. Até que um dia resolvi experimentar. Então, só depois de ter três filhos é que comecei a correr e a levar a sério a profissão. Hoje, sou apaixonada pelo o que faço e ainda quero dar muito orgulho para todos", finalizou a mamãe de prata.

Campeões do Ranking CAIXA/CBAt - A Volta da Pampulha de 2011, além de confirmar a prova como uma das mais tradicionais do País, foi a definidora do Ranking CAIXA/CBAt de Corredores de Rua de 2011. Giomar Pereira da Silva, da equipe do Cruzeiro, e Conceição de Maria Carvalho Oliveira, da Find Your Self, com o 4º e o 12º lugares na prova, respectivamente, garantiram a primeira colocação entre os melhores do Brasil.

"O tetracampeonato (2006, 2008, 2009 e 2011) era o objetivo do ano. Tive uma contusão, que me atrapalhou, e fiquei quase três meses sem correr. Mas consegui voltar. A prova deste domingo foi bem rápida e exigiu muito. Vim para ficar entre os dez, mas no final senti que dava para brigar pelo pódio. Ganhar o tetracampeonato, ainda mais quase chegando aos 40 anos, não tem preço. Foi um ano difícil, mas recompensador", orgulhou-se Giomar, que correu 17 das 23 provas da temporada.

Conceição de Maria Carvalho Oliveira, que pela terceira vez foi a melhor do Ranking CAIXA/CBAt de Corredores, também se mostrou agradecida pelo ano que teve. "Foi um 2011 muito duro, já que estive presente em praticamente todos os pódios das 21 provas que disputei. Já esperava que não ia pegar pódio na Volta da Pampulha porque fiz uma prova muito forte em Curitiba. Mas o importante foi garantir o tricampeonato. Agora, vou para a São Silvestre sem compromisso nenhum, mais tranquila, fechando esse ano", confessou a atleta que diz que só vai começar a planejar 2012 em janeiro. Conceição também foi a melhor em 2005 e 2008.

Corrida pela saúde - Pelo terceiro ano consecutivo, a Volta da Pampulha faz parte do calendário do projeto "Volta Monitorada de BH", aprovado pela Lei de Incentivo ao Esporte e que, ao longo do ano, faz o acompanhamento de um grupo de portadores de diabetes. Nesta edição, foram 41 corredores participantes, sendo que metade deles correu com um sensor instalado por baixo da pele, que faz medições da glicemia a cada cinco minutos.

Hebert Nogueira Guimarães, de 40 anos, é um dos monitorados. "Participar da Volta da Pampulha tem um gostinho especial pela tradição. A primeira vez que corri, há dois anos, foi uma emoção muito grande. Quando estamos perto da chegada, sentimos que vencemos mais um desafio na vida", emocionou-se o atleta amador, que tem diabetes há 28 anos e começou a correr há três. "Corro cerca de quatro vezes na semana e minha vida mudou muito. Melhora a qualidade de vida e dá mais saúde, principalmente para nós, diabéticos, que precisamos de cuidados a mais na hora de fazer atividades físicas".

A equipe do Centro de Diabetes de Belo Horizonte - CDBH, que criou o projeto, conta com 18 profissionais, entre médicos, nutricionistas, professores de educação física, enfermeiros e podólogos, responsáveis por acompanhar os atletas no processo. Este tipo de avaliação, inédita no Brasil, demonstra os benefícios dos exercícios físicos para os pacientes de diabetes além de aumentar a segurança. Estima-se que haja, pelo menos, 300 milhões de pessoas com diabetes em todo o mundo, e no Brasil, são cerca de 11 milhões de portadores, segundo dados do Ministério da Saúde e de sociedades médicas.

Campeões amadores - Para a grande maioria dos participantes da Volta da Pampulha, cruzar a linha de chegada e ganhar a medalha de participação e mais qualidade de vida é a melhor vitória. Por isso, a cada ano, o número de grupos de corredores de rua amadores só cresce, ajudando a divulgar a modalidade. A equipe da Montevérgine, uma das apoiadoras da Volta da Pampulha, é uma das maiores na edição 2011, com cerca de 140 corredores, número recorde nos oito anos de existência.

O grupo todo da Montevérgine é formado por, aproximadamente, 250 clientes da empresa, que se reúnem, ao longo do ano, de acordo com a disponibilidade de cada um, em locais diferentes. O professor de educação física Marcello Lima, de 50 anos, é um dos corredores amadores. Com 34 anos de corrida, Marcello se considera um pioneiro na capital mineira. "Corro desde quando ainda não existia a Volta da Pampulha e não deixei de participar de nenhuma edição da prova".

Marcello gosta de incentivar a todos a praticar uma atividade física, principalmente se for a corrida, e aproveita para fazer um convite a quem ainda não tentou. "A corrida é excelente. Não tem coisa melhor e não requer nada. Basta colocar shorts, camiseta, tênis e ter boa vontade e disposição. É para qualquer um e todos podem. Vale a tentativa", concluiu.

Resultados

Masculino

1- Barnabas Kiplagat Kosgei (Fila/Quênia) - 53m09s
2- Damião Ancelmo de Souza (Pé de Vento) - 53m13s
3- Paulo Roberto Almeida Paula (Grancursos/Cruzeiro) - 53m13s
4- Giomar Pereira da Silva (Cruzeiro/Caixa) - 53m30s
5- Nelson Priva Mbuya (Fila/Tanzânia) - 53m34s
6- Gilmar Silvestre Lopes (Pé de Vento) - 53m39s
7- José Márcio Leão da Silva (Cruzeiro/Caixa) - 55m03s
8- João Ferreira Lima, o "João da Bota" - 55m17s
9- Luis Fernando de Almeida Paula (Cruzeiro/Caixa) - 55m29s
10- Edmilson dos Reis Santana (Pé de Vento) - 55m30s

Feminino
1- Nancy Jepkosgei Kipron (Fila/Quênia) - 1h02m41s
2- Sueli Pereira Silva (EJA/Grancursos) - 1h03m28s
3- Jaclyne Chemwek (Luasa/Quênia) - 1h03m32s
4- Tatiele Roberta de Carvalho (Sicredi/Nike)- 1h03m42s
5- Marily dos Santos (Mizuno/Multsport) - 1h04m19s
6- Vanda Carneiro Chagas (Agel/Ajax) - 1h04m30s
7- Bornes Jepkirui Kitur (Fila/Quênia) - 1h04m45s
8- Maria Zeferina Baldaia (Pacer/Sertãozinho) - 1h05m02s
9- Edielza Alves Guimarães (Pinda/Olimpykus) - 1h05min59s
10- Natalia Elisante Sulle (Fila/Tanzânia) - 1h06m00s

Cadeirantes - Masculino
1- Israel Cruz Jackson de Barros (ADFPA) - 50m02s
2- Jaciel Antonio Paulino (ADD/Fila) - 51m02s
3- Carlos Neves de Souza (ADD/Fila) - 54m19s

Cadeirantes - Feminino
1- Angelina Nascimento da Silva (ADD) - 1h33m11s

Deficientes Membros Superiores - Masculino
1- Carlos Alves do Nascimento (Carlão Maratonista) - 1h11m00s

Deficientes Auditivos - Masculino
1- Carleiton Freire dos Santos (CA) - 1h06m48s

Deficientes Visuais - Masculino
1- Ataualpa Campos de Almeida (Adevibel) - 1h22m57s

Deficientes Visuais - Feminino
1- Dores Fernandes Leite (Fortaleser) - 1h35m31s