Time Brasil estreia no skeleton olímpico em Lillehammer 2016

Robert Barbosa durante treino do Skelton nos Jogos Olímpicos da Juventude / Foto: Christian Dawes/COB

Noruega - Eles são cariocas, jovens e gostam de praia. Mas o que os uniu mesmo foi a possibilidade de melhorar de vida através de um esporte de inverno pouco conhecido no Brasil. Após migrarem do levantamento de peso, Laura Nascimento e Robert Barbosa são os responsáveis por incluir o Time Brasil entre as equipes olímpicas de skeleton. 
 
Nesta sexta-feira, dia 19, durante os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude Lillehammer 2016, o Brasil fará sua primeira participação olímpica na modalidade em que o atleta desce uma pista de gelo em um pequeno trenó controlado pelos movimentos do corpo, de barriga para baixo, podendo alcançar velocidades de até 120km/h. A competição de skeleton tem início às 6hs (de Brasília).
 
Antes de chegar ao gelo, Laura e Robert já haviam se sagrado campeões brasileiros de levantamento de peso em suas categorias de idade, treinando no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), no Rio. Porém, através de uma seletiva realizada pela Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), no início do ano passado, eles migraram para o skeleton. A partir daí, participaram de diversos períodos de treinamento dentro e fora do Brasil visando especialmente aos Jogos da Juventude. 
 
As mudanças na vida de Laura e Robert desde que partiram para a aventura gelada foram enormes. Moradores da Zona Norte do Rio, os dois nunca tinham visto neve até meados do ano passado. Muito menos realizado treinos específicos de corrida no gelo, fundamentais no início da prova de skeleton. Quanto mais rápida a velocidade inicial, menor o tempo final de descida, o que determina os vencedores nessa modalidade.  
 
“No começo era tudo muito difícil. Eu não sabia correr direito, já que no levantamento de peso a gente não faz esse tipo de treinamento. Dar o impulso inicial no trenó também era muito complicado. Agora estou bem melhor”, disse Robert. “Ainda fico com frio na barriga antes das provas. Mas antes o nervosismo era enorme. Agora eu já sei o que fazer, consigo me controlar e competir relaxado”, afirmou o atleta.
 
Robert é morador de uma comunidade no Acari, no Rio. O jovem chegou ao levantamento de peso, antes de migrar para o skeleton, através da Pastoral do Menor - serviço social da igreja para atendimento de crianças em situação de vulnerabilidade. Agora o jovem carioca está prestes a participar dos Jogos Olímpicos. “Estou muito feliz em estar aqui. Essa é uma oportunidade enorme de representar o Brasil em Jogos Olímpicos. Nunca imaginei que eu chegaria nas Olimpíadas no skeleton. Vou dar o meu melhor para ir para casa com um bom resultado”, afirmou o jovem de 17 anos.
 
Após os primeiros treinos no exterior, Laura e Robert começaram a disputa pela vaga olímpica em Lake Placid, nos Estados Unidos, em meados do ano passado. Desde então Laura afirma ter evoluído muito na nova modalidade. “Eu venho me aperfeiçoando aos poucos. Evoluindo consistentemente. É muito grande a diferença, mas eu ainda sinto que posso melhorar. Não vou parar por aqui”, disse Laura
 
A atleta, que mora em Cascadura, também Zona Norte do Rio, afirma que não mudou apenas no esporte. Com  as viagens internacionais, a jovem de apenas 15 anos teve que amadurecer mais rápido do que muitas meninas de sua idade. “Eu mudei bastante. Minha mãe até me elogia por isso hoje em dia. Eu era muito desorganizada e vivia atrasada. Também em relação aos trabalhos domésticos, já ajudo mais em casa. Tive que me virar sozinha”, disse a atleta, mostrando tranquilidade às vésperas da estreia olímpica. 
 
“Minha expectativa é a melhor possível. Treinamos muito para chegar a esse momento. Confio no trabalho que foi feito, nos períodos de intercâmbio fora do Brasil e em todo treinamento. Tenho confiança no que eu vou fazer e pretendo me sair muito bem. Estou tranquila. Quero viver o meu momento com a pista. Sei que vai passar um filme na minha cabeça de tudo o que já aconteceu na minha vida. Meu objetivo é sair satisfeita com minha performance”, afirmou a falante Laura, que promete seguir na modalidade com seriedade. “Quero ser uma boa competidora e representar o Brasil em campeonatos futuros”, afirmou a jovem.
 
O presidente da CBDG, Emilio Strapasson, está na Noruega acompanhando a performance de seus atletas. Emilio destaca a oportunidade que os jovens de comunidades carentes estão tendo. “É uma oportunidade única e rara na vida deles. Sabemos que será muito difícil um ótimo resultado imediato, mas, se eles se classificaram para os Jogos, temos que proporcionar a melhor preparação possível, como foi feito. Até treinadores britânicos foram contratados. Tenho certeza que essa experiência vai marcar a vida deles, não só no esporte”, disse o presidente.
 
Emilio foi atleta de skeleton e quase se classificou para os Jogos Olímpicos de Inverno Turim 2006 e Vancouver 2010, de adultos. “Tenho muito carinho pelo skeleton, meu esporte de estimação. Acho que é possível desenvolver talentos da modalidade no Brasil. A participação da Laura e do Robert é o início de um projeto muito bonito. O que está acontecendo aqui em Lillehammer é uma grande realização”, afirmou Strapasson.
 
A competição masculina e feminina de skeleton nos Jogos de Inverno será realizada em duas descidas na pista de gelo de Lillehammer. O resultado final se dá através da soma dos tempos das duas baterias. O menor tempo total determina os vencedores.
 
Assim como o skeleton, o curling brasileiro também fez sua estreia em Jogos Olímpicos em Lillehammer 2016.
 
 
 
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