Paula conta detalhes do projeto Plataforma 2016

Paula conversou com o Esporte Alternativo sobre o Plataforma 2016 / Foto: Esporte Alternativo
São Paulo - Maria Paula Gonçalves da Silva, ou simplesmente Magic Paula. Aposentada das quadras há 13 anos, a brasileira que fez história e encantou o mundo jogando basquete, quer agora fazer história também fora das quadras. Depois de passar por vários cargos administrativos ligados ao esporte, Paula coordena hoje o projeto "Plataforma 2016", bancado pela Petrobras e que tem o objetivo de desenvolver o esporte olímpico brasileiro. 
 
O Esporte Alternativo conversou com Magic Paula para saber detalhes desse projeto que é apenas um dos segmentos que a patrocinadora está investindo. Além do esporte de rendimento, também existem investimentos no esporte educacional, no esporte de participação e até na memória do esporte. 
 
O Projeto Plataforma 2016 é a principal iniciativa em favor do esporte olímpico brasileiro. Até os Jogos Olímpicos do Rio 2016, o planejamento estará focado no uso da Lei de Incentivo ao esporte em cinco modalidades: boxe, esgrima, levantamento de peso, remo e taekwondo.
Projeto coordenado por Paula atende 110 atletas  / Foto: Agência Petrobras
 
Durante o bate-papo com o Esporte Alternativo, a cestinha explicou qual é o papel dela e de seu Instituto Passe de Mágica nesse projeto tão grande. Paula falou sobre os resultados já alcançados em Londres 2012 e contou como é feita a escolha dos beneficiados pelo Plataforma 2016, que podem ganhar até 6 mil reais de salários por mês.
 
Além de falar sobre o projeto, Paula disse que não sente saudades das quadras, falou sobre o doping de Lance Armstrong e disse que torce para que outras empresas sigam o mesmo caminho da Petrobras. Para Magic Paula, só dessa maneira podemos esperar um bom resultado dos brasileiros nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. 
 
Confira a entrevista completa: 
 
Esporte Alternativo - Conta um pouco pra gente como é esse projeto que está visando lá na frente os Jogos Olímpicos de 2016 ? 
 
Paula - Na verdade eu já estou fora das quadras há 13 anos né, jamais vou deixar de ser a atleta de Basquete, isso vai sempre estar tatuado no meu corpo, não tem como me  desfazer desse período da minha vida, que foi muito legal também, mas eu já estou há 13 anos trabalhando com a área administrativa de esportes, da gestão de esportes. Passei nove anos no Centro Olímpico, tive uma passagem pela Secretaria de Alto Rendimento lá no Ministério dos Esportes e em 2010 eu fui convidada pela Petrobras para assumir a gestão desse projeto. Quem faz a execução da parte administrativa e financeira do Plataforma 2016 é o meu Instituto. É um projeto voltado para as Olimpíadas de 2016. É inovador porque é a primeira vez que você tem uma terceira entidade fazendo a gestão dos recursos de patrocínio. É um patrocínio via Lei de Incentivo. A Petrobras iria pagar um montante de impostos e uma porcentagem disso está sendo revertida para  alguns nichos da área de esportes. A área de rendimento é a minha instituição que está cuidando e eu coordeno esse projeto para a Petrobras. Nós atendemos hoje 110 atletas. É um projeto focado totalmente para o atleta, ou seja, toda a estrutura que ele necessita. 
 
Esporte Alternativo - O Plataforma 2016 está focado em cinco modalidades que distribuem muitas medalhas nos Jogos Olímpicos e ao mesmo tempo o Brasil não tem tradição nesses esportes. É mais ou menos isso? 
 
Paula - É. A gente está correndo contra o tempo por falta de um planejamento a longo prazo. A gente é muito imediatista quando  fala de esportes nesse país, fala em Olimpíadas em ano de Olimpíadas. Se estrutura para uma competição do nível das olimpíadas muito próximo da competição. Para os Jogos Olímpicos do Rio 2016 vamos focar em algumas modalidades diferente daquelas que estamos habituados. Essas cinco modalidades foram escolhidas pela patrocinadora, pela Petrobras:  Remo, Esgrima, Taekwondo, Levantamento de peso e Boxe. Dessas cinco modalidades, apoiamos aproximadamente 20 atletas de cada uma delas. Além dos atletas, um apoio efetivo a treinadores, preparador físico, psicólogos, nutricionistas e toda a parte de pessoal  que estrutura também o treinamento do atleta. Esse atleta tem vários benefícios. Bolsa Salário, que ele ganha todo mês para poder ter tranquilidade, infraestrutura, para poder se preparar, plano de saúde, dentário, vale-refeição e o vale-transporte. Ele tem todos os benefícios que um trabalhador comum tem. Além disso, programamos dois exames de doping por ano pra cada atleta desses pra ver como é que está sendo feito o trabalho nesse pessoal também. Isso é feito pensando em educar essa turma, porque hoje o doping é uma realidade em todo o esporte mundial. 
 
Esporte Alternativo -  O que aconteceu no ciclismo com o Lance Armstrong no ciclismo é uma coisa que qualquer modalidade está sujeita hoje ? 
 
Paula - Muitos atletas caem nessa roubada por falta de conhecimento, por despreocupação e até por não saber o que ele está tomando. Hoje, com o treinamento forte e com toda a pesquisa envolvendo o esporte, você tem alguns medicamentos para a recuperação física, mas tem muito atleta que está tomando coisas que não sabe o que é pra melhorar sua performance.  No caso do Lance, eu acho que foi totalmente premeditado. Eu acho que ele fere totalmente as regras, os valores olímpicos. Eu acho que tem sido cada vez mais comum o doping dentro do esporte, principalmente do esporte Olímpico. O esporte se profissionalizou, envolve muito dinheiro e às vezes o atleta não tenha essa percepção que está fazendo o bem hoje pra ele, com o objetivo de conquistar títulos e fazer o seu pé de meia, mas lá na frente os resultados são negativos. A nossa preocupação é essa, de poder educar essa turma. Nós fazemos testes fora de competição, porque normalmente não se faz. Na verdade, se faz na competição de alto nível e pronto. Então, o atleta que é malicioso e está fazendo aquilo pra melhoria do seu rendimento, acaba parando um tempo antes pra chegar lá limpo. A nossa preocupação é fazer fora de competição mesmo.  Temos bolsa de estudos também para todos os atletas. São vários benefícios: equipamentos pra eles treinarem, equipamentos esportivos, despesas de competições internacionais, o hotel que ele fica lá fora, então toda essa parte administrativa e financeira o Instituto faz. A parte gerencial técnica quem faz são as confederações. São as confederações quem indicam esses atletas que vão ser beneficiados. Já estamos indo para o terceiro ano do Programa, do projeto. É um programa bacana, porque ele começou lá atrás, visando 2016. O Instituto resolve assumir isso porque está bem na linha do que a gente acredita. Acredita que o foco tem que ser o atleta. Acredita que as coisas tem que ser feitas com o tempo, a longo prazo e com planejamento. 
 
Esporte Alternativo - O que esse projeto já colheu em Londres ? Dá pra falar que alguns resultados conquistados em Londres são frutos dessa parceria ? 
 
Paula - Eu acho que é muito precipitado. O Plantaforma 2016  tinha um ano e meio quando chegou Londres 2012. Dizer que resultados aconteceram por conta desse investimento é precipidao. Mas acredito que isso tenha ajudado muito. Vou usar como exemplo esses atletas do boxe, que vieram com medalhas de Londres 2012: são atletas que fizeram um circuito de competições internacionais muito bom, coisa que eles nunca tinham feito. Nós tivemos já em 2011 a Fabiana Beltrame como campeã Mundial de uma prova que não é Olímpica. Essa foi a primeira vez que o remo conquistou um campeonato mundial. Já tivemos o Fernando Reis, que é do Levantamento de Peso, ganhando uma medalha de ouro no Pan-Americano. Isso nunca havia acontecido na história do Levantamento de Peso. Já tem aí um retrospecto interessante. O Diogo classificou para as Olimpíadas numa seletiva mundial que não era nem a seletiva regional, no caso Pan-Americana. Muita coisa já aconteceu nesse percurso. O grande resultado pro Plataforma 2016 e para a patrocinadora foram essas três medalhas e a participação de alguns atletas até da esgrima, em Londres 2012, como sendo a melhor da história das modalidades. A patrocinadora e nós entendemos que com um pouquinho de estrutura e apoio, você já vai ver reflexos e resultados.  
 
Esporte Alternativo - Pelo fato de ser no Brasil os próximos Jogos Olímpicos, a chance de conquistar uma medalha é maior ou é igual ? Muda alguma coisa ? 
 
Paula - Pelo Brasil sediar pela primeira vez, eu acho que é uma incógnita, porque ao mesmo tempo que você está jogando com a sua torcida, também tem uma responsabilidade maior. Também tem muita gente que se sente pressionado. Eu acho que é ao contrário. Deveria ser uma motivação, mas isso vai depender do estado psicológico de cada atleta e como ele se comporta diante dessa situação. Eu acho motivante para o país. Me preocupa um pouco porque estamos aí a poucos anos de sediar uma grande competição e  vamos sofrer bastante por causa desse descaso que tivemos ao longo dos anos de não pensar na matéria prima que estaria representando o país nesse momento. Agora, temos que focar na qualidade e na quantidade que temos hoje, que não é muito, e tentar tirar o maior proveito possível desses atletas que estão em atividade.  
 
Esporte Alternativo - Recentemente a Nissan fez um projeto parecido com o da Petrobras. Você acha que tem espaço pra mais gente ainda ? Ainda tem atleta que está precisando de apoio e não consegue, de nenhuma forma ? 
 
Paula - Não tenho dúvidas. Eu acho que tem muita gente e eu acho que tem um despreparo grande também por parte dos atletas que quando tem e não diz que tem. Reclama quando não tem, aí vai pra TV e não fala nada ou não cumpre a sua parte. Eu já fui atleta e sei como é que é.  Quando tem, não valoriza o que tem.  Isso é algo que precisa ser trabalhado também com os atletas. Esse projeto que você citou parece com o nosso, mas não tem essa estrutura toda. O Plataforma 2016 apoia quase 160 pessoas, entre atletas e profissionais que trabalham diretamente com eles. O projeto tem só nessa unidade aqui quase dez pessoas. Então, já que pegamos pra fazer algo que era inédito, queremos fazer bem feito. 
 
Esporte Alternativo - Como que é a relação do Plataforma 2016 com o COB, o Comitê Olímpico Brasileiro ? 
 
Paula - O esporte brasileiro pensa de uma maneira assim: "tudo o que se diz respeito a treinamentos de atletas ou atletas de seleção, tem que estar junto com o COB". O Plataforma 2016 é um projeto que agrega o esporte brasileiro. Existe um contrato entre Petrobras, confederação e o Instituto. A Petrobras contatou o COB pra falar do projeto mas não tem envolvimento nenhum. A única coisa que temos conversado um pouco com o COB é com relação as competições internacionais que bancamos pra não chocar com as que o COB também acaba pagando pra cada confederação dessa. Do resto, a relação é diretamente com as confederações. 
 
Esporte Alternativo -  O EA deu uma olhada na lista dos atletas que estão sendo patrocinados pelo Plataforma 2016 e viu que na lista dos beneficiados existem alguns atletas bem experientes, com 30 anos, 36 anos... Por que essa diferença tão grande dos mais jovens para os mais velhos ? 
 
Paula - O Instituto Passe de Mágica não tem ingerência em quem a confederação indica. A gente se isenta dessa responsabilidade se o cara tem 30, 39 ou 40 anos, pensando na Olimpíadas. O nosso desejo e do patrocinador é que estivesse um grupo atual, que já é realidade e um grupo que viesse junto, com essa turma sendo preparado para 2016. O terceiro ponto nessa questão é que essas modalidades ficaram sem uma estrutura durante muitos anos e agora não tem uma quantidade de revelações para que isso seja feito de forma diferente. Não foi feito um trabalho de renovação, que seria ideal pra esse momento que estamos vivendo. Essa é uma pergunta que vai ter que ser feita as confederações, porque como não temos ingerência nesse sentido, apenas orientamos, discutimos nos relatórios com as confederações sobre isso e até levamos o pedido da patrocinadora, que é importante ter pessoas mais jovens, atletas mais jovens, mas essa é uma questão que tem que ser feita para as confederações.  
 
Esporte Alternativo -  Você pode falar sobre as expectativas para 2016 nessas cinco modalidades ? Já dá pra falar que vamos conseguir trazer "X" medalhas ? Já existe uma meta para 2016 ? 
 
Paula - No primeiro ano, quando a gente senta com as confederações pra elaborar o Plataforma 2016, pra fazer um diagnóstico inicial do projeto, a gente define metas com essas confederações. Essas metas são reais. Não dá pra você trabalhar sem ter um foco, sem ter um norte de onde você quer chegar. A todo o momento era pedido que se fosse algo realista. É uma filosofia da patrocinadora de não ficar: "olha, nós queremos X medalhas". Isso não é a intenção do Plataforma 2016, mas a gente vê que quando você tem o apoio, as coisas acontecem. Quem que esperava que na volta de Londres teríamos três medalhas no boxe ? Dificilmente. Tinha aí uma previsão de uma, pelo menos tinha, mas acabou voltando com três. É muito precoce citar quantas medalhas com esse investimento nesse projeto vamos conquistar no Rio 2016. Eu acho que tem que dar um pouquinho de tempo e não ser imediatista também nessa análise e nessa avaliação. Vamos esperar chegar um pouquinho mais próximo a competição pra poder definir isso.  
 
Esporte Alternativo -  Esses atletas foram escolhidos pelas confederações. Como isso funciona ? Até 2016 eles vão estar nesse projeto ou não ? Isso pode mudar ? Existe um rodízio ? 
 
Paula - Não. Pode trocar. Nós temos quatro níveis de salário né nesse projeto e esses salários também podem ser trocados. É toda uma questão de filosofia das confederações. Por exemplo  o boxe trabalha muito bem com isso. O cara está no primeiro nível, que é o melhor e começa dar mole, começa a não querer saber de treinar, não ter preocupação. Eles colocam o atleta lá pra baixo. Eles trabalham muito bem com esses níveis salariais. Muitos atletas já saíram do projeto, outros entraram, então existe sim essa rotatividade de atletas. Ninguém pode ter cadeira cativa. Não é nem tanto pelo resultado, mas pelo envolvimento, pela disciplina, pela forma como conduz o trabalho, porque as vezes não tem talento, mas pode ter esforço, garra, disciplina pra aquilo que está fazendo. Isso depende muito de cada um. 
 
Esporte Alternativo - Alguns jogadores de futebol ganham milhões por mês, como o Neymar.  Um atleta do Plataforma 2016 ainda está muito longe de um jogador de futebol  ? 
 
Paula - Não vai chegar nunca. Não vai chegar nunca. Eu acho que os esportes olímpicos nunca vai ter um salário do tênis, de um futebol. Isso está muito aquém. Se aproxima um pouco aqueles que conseguiram ir pra NBA, porque tem um contrato de 04 ou 05 anos e tem um salário interessante. Aqui não temos porque não falar o salário. Essa bolsa auxílio, que esses atletas recebem tem teto de R$3100,00, porque é o teto que o Ministério deixa e aprova. Isso gira em cima da Bolsa Atleta, que é do próprio Ministério. A gente não consegue ter um teto maior. Para  os atletas que voltaram medalhistas de Londres 2012, a gente colocou alguns parâmetros. Conseguimos com que o Ministério pagasse um pouco mais aos medalhistas. Quem voltou com a medalha de ouro recebe agora R$ 6000,00 e medalha de prata R$5000,00. Com isso, conseguimos que esse pessoal do boxe tenha um salário um pouquinho melhor, mas não dá para comparar com o futebol, que os caras tem R$500.000,00 por mês. Isso não dá. 
 
Esporte Alternativo -  Você acha que isso é cultura do povo brasileiro ? Por exemplo. Não está acostumado a ir ver uma competição de esgrima, não conhece por exemplo um Renzo Agresta, que é um dos melhores esgrimistas hoje classificados no mundo, que está ali entre os 20 primeiros. Isso num país que não tem praticamente tradição nenhuma nesse esporte. Seria por causa disso ? Na Itália já se tem mais tradição e provavelmente os atletas ganham mais.   
 
Paula - Com certeza não ganham o que ganha um jogador de futebol. Eu acho que ter um salário digno era o mínimo que deveria ter. É por conta de recursos mesmo. Você não tem patrocínio, não tem como bancar um salário alto. Você tem um patrocínio as vezes que dá pra você dar um valor que é aquilo que o patrocínio atende. Os esportes olímpicos sofrem um pouco com isso. Eu acho que quem está fora da curva aí talvez seja o vôlei, que tem bons salários, tanto o feminino quanto no masculino. Mesmo assim são aqueles 20, 30 atletas que conseguem ter um salário bacana e com isso conseguem pensar no futuro. Agora essas modalidades, que não tem muita tradição no Brasil, sofrem muito.   
 
Esporte Alternativo -  Você acha que isso vai mudar com a aproximação de 2016 ? Vai ter muita empresa querendo colocar o nome em atleta ? 
 
Paula - Eu adoraria que isso acontecesse, porque não dá pra chegar um ano antes e dizer que vai investir. Pra gente ter um trabalho de qualidade, o investimento tem que começar agora. Como instituto, nesses dois anos trabalhando com o Plataforma 2016, adquirimos um Know-how de assessorar outras empresas a fazer isso também que a gente está fazendo. O interessante é começar a pensar nesse investimento agora e não chegar em cima da hora e colocar o nome para tirar proveito do evento.  
 
Esporte Alternativo -  Isso vai acabar acontecendo, né ? 
 
Paula - E talvez a gente não tenha a performance que merecia. Você não consegue ter um atleta treinando da forma que tem que treinar e competir internacionalmente sem ter recursos, sem ter apoio. Esse projeto favoreceu muito as modalidades que tinham aí pouco recurso para desenvolver um trabalho. 
 
Esporte Alternativo -  Como que era essa coisa de doping na sua época ? 
 
Paula - Não tinha. Na minha época não tinha. Nas equipes que eu joguei, na seleção, eu desconheço. Agora se for perguntar em outros países eu não estava lá pra ver. Eu me lembro de uma jogadora que ficou sem jogar o Pan-Americano porque foi lá e colocou um remédio no nariz, não falou nada que tinha colocado o remédio no nariz e quando ficomos sabendo ela já estava no banco. Ainda bem que ela não estava jogando. Coisas assim que aconteciam. Hoje o atleta quando chega já recebe uma lista do que ele pode e o que não pode tomar. Tem um médico e você não pode tomar nada sem falar com o médico. Agora em 1983, nos Jogos Pan-Americanos, não existia nada disso. Na nossa época nunca. Eu desconheço. 
 
Esporte Alternativo -  Dá saudades das quadras Paula ? 
 
Paula - Eu não tenho. Eu não tenho não. Eu acho que quando você consegue digerir bem essa sua fase como atleta e você se prepara para o que você está fazendo.  
 
Esporte Alternativo - Você não bate nem uma bolinha de vez em quando ? 
 
Paula - Não porque os meus joelhos não deixam. Eu consegui voltar a correr um pouco agora. Eu adoraria voltar a brincar. É o que eu digo. Se eu for brincar, vou ter que brincar com os meninos, porque não tem menina que se junta para bater bola de basquete. É mais fácil você encontrar alguém jogando vôlei do que basquete.  Eu não tenho saudades não. Tenho saudades da convivência, das brincadeiras que eram divertidas, mas tomava muito o seu tempo. Você não era dona do seu tempo.  Qualquer pessoa vai pra casa quando acaba o trabalho. Nós muitas vezes ficávamos concentradas em algum lugar. E não eram viagens pra se divertir. Eram viagens pra trabalhar. Bem diferente. 
 
Esporte Alternativo - É difícil ganhar uma medalha ? 
 
Paula - Muito difícil. Principalmente a nossa geração, que ficamos quase 18 anos. Na Olimpíada de Atlanta a gente já estava há 20 anos na estrada. Já era pra ter desistido há muito tempo.
 
Esporte Alternativo - A Olimpíada de Atlanta foi a sua maior conquista ? Ou foi o Pan-Americano de Cuba ?  
 
Paula - Nenhum dos dois. Foi o Mundial. A Olimpíadas tem todo um marketing, um glamour, mas no mundial nós jogamos contra 16 equipes que estavam disputando três medalhas.  Nos Jogos Olímpicos são oito ou dez. Eu acho o Mundial muito mais difícil. Você tem que passar por um Pré-Olímpico pra chegar no mundial. Pra mim, o título mais importante, foi ser campeã do Mundo.