Recordista em Olimpíadas, Formiga quer mais na Rio 2016

Formiga em ação / Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Rio de Janeiro - Se tem futebol feminino nas Olimpíadas, lá está ela. Recordista na modalidade com cinco participações - Atlanta (1996); Sydney (2000); Atenas (2004); Pequim (2008) e Londres (2012)-, Miraildes Maciel Mota, mais conhecida por Formiga, quer ampliar a marca em 2016. Disposição não faltará à jogadora de 36 anos, ainda mais com o torneio sendo disputado no Brasil.
 
Ela quer repetir o gosto de conquistar o ouro em casa, como no Pan Americano de 2007 no Rio de Janeiro, mas, sabe que a pressão para as atletas mais jovens pode ser grande. Com a experiência de 20 anos de Seleção Brasileira, a meio-campista tem consciência de sua importância, que vai além das quatro linhas.
 
“O que eu posso fazer para ajudar o grupo, porque a gente tem uma responsabilidade a mais pela experiência, é levar um pouco do fardo para as meninas mais novas. Temos que nos preparar em tudo. Mentalmente, então, é o principal”, explica Formiga, para pedir o apoio da torcida, como foi no Pan do Rio.
 
“A ansiedade é normal, não tem como... jogando em casa a pressão é maior e a gente tem que saber lidar com isso, senão se perde no meio do caminho. Os torcedores têm que apoiar, têm que saber ajudar a seleção, principalmente, nos momentos mais difíceis”.
 
Pressão que ela diz não sentir, mesmo quando iniciou a trajetória na Seleção Brasileira aos 16 anos, disputando um Mundial e, no ano seguinte, uma Olimpíada. “Futebol para mim é uma diversão, uma coisa que eu gosto de fazer. Tenho esse pensamento até hoje. Quando caiu a ficha de o futebol ser a minha profissão, eu tinha quase 25 anos. Nunca senti tanto a pressão, a preocupação”.
 
Parece algo natural, uma brincadeira, para quem diz que já nasceu com intimidade com a bola. “Eu já nasci com o dom, eu necessitava de um ‘empurrãozinho’ para evoluir e consegui com pessoas do bem, que acreditaram em mim”.
 
O agradecimento não fica restrito a antigos treinadores e à família, se estende a atletas como Sissi, Pretinha, Meg, Marisa, Suzy e outras pioneiras do futebol feminino, com quem Formiga mantém contato até hoje. “Elas foram as pioneiras. Quando eu cheguei, elas já estavam e abriram caminho para mim. Foram elas que seguraram a bucha lá atrás, para que hoje o futebol feminino esteja como está. O papel delas foi fundamental. Não desistiram em momento algum. Eu converso com algumas daquela época. Elas ficaram muito felizes em saber que o grupo de 2004 conseguiu um feito muito grande e elas fizeram parte disso”.
 
Clique para ampliar a imagemO feito citado por Formiga foi a medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas. “Sentimos que estava chegando o momento de conquistar algo, para mudar de vez a cara do futebol feminino no nosso país. Ali era a nossa chance. A gente percebeu que algumas das principais jogadoras das outras seleções haviam saído. Nossa equipe também estava renovada, mas, ainda tínhamos meninas mais experientes. O Renê Simões (técnico) chegou e fez com que a gente acreditasse que podia conseguir um pódio”, relata.
 
A campanha brasileira foi construída com duas goleadas, duas vitórias pelo placar mínimo e uma derrota para os EUA na primeira fase. Na disputa pelo ouro, novo confronto contra as norte-americanas. O Brasil dominou a partida, mandou duas bolas na trave e teve inúmeras chances de gol. Mas, quem marcou primeiro foram as adversárias. A equipe verde e amarelo buscou o empate e manteve a pressão no tempo extra, quando novamente levou um gol e não conseguiu reagir. Final 2 x 1.
 
Na edição seguinte, em Pequim, a façanha foi repetida e com roteiro parecido. O Brasil teve um empate e duas vitórias na primeira fase, passou por 2 x 1 da Noruega nas quartas de final e atropelou a Alemanha por 4 x 1 na semifinal. Na briga pelo lugar mais alto do pódio, novamente as norte-americanas pela frente. O domínio foi brasileiro durante a maior parte do tempo normal e da prorrogação. Mas, novamente no tempo extra os EUA conseguiram marcar e venceram por 1 x 0.
 
Clique para ampliar a imagem“Chegou certo momento do jogo, depois de uma bola na trave nossa, que eu olhei para cima e disse: ‘meu Deus, não é nosso né?’ Quando acabou vi as meninas jogadas no chão chorando. Falei: ‘como é que pode?’ Não caiu uma lágrima dos meus olhos. Agradeci, porque sabia que se não aconteceu naquele momento é porque vai acontecer lá na frente, mas isso é para acordar alguém no nosso país. Depois fui abraçar cada uma delas”.
 
Para a jogadora, a Seleção Brasileira deve ser trabalhada psicologicamente para ter uma postura parecida com as rivais. “É mal de brasileiro. Acho que em quase todas as modalidades, quando chega à final dá aquela relaxada. São segundos que se perde o foco e a partida. Temos que estar concentradas até o último minuto. As americanas e as alemãs são muito frias. Elas podem estar perdendo por 2 x 0 faltando três minutos, vamos supor, que conseguem ir lá e virar a situação. Elas vão até o último acreditando. É o que a gente tem que fazer, puxar essa parte da frieza delas e trabalhar o nosso psicológico”.
 
Ela sabe que terá um papel fundamental para passar essa tranquilidade às companheiras mais jovens e já se prepara para ampliar o recorde em Olimpíadas. “Você não sabe o que é chegar a uma final. Passa tanta coisa na sua cabeça. Um filme da primeira até a última Olimpíada. Tudo que eu fiz, tantas meninas com quem já joguei... Muda o ciclo e penso: ‘como vai ser daqui a quatro anos? Será que vou estar?”, questiona.
 
“Já estou me preparando, mas há muita coisa pela frente. Estou me cuidando, porque o meu objetivo final é essa Olimpíada de 2016”. Quem duvida?