Yane acaba em 23º e pede mais oportunidades para seu esporte

Yane teve a pior exibição de esgrima da sua carreira / Foto: Rob Carr / Getty Images

Rio de Janeiro - Yane Marques era uma medalhista em potencial para o COB (Comitê Olímpico do Brasil) na Rio 2016. Desde que conquistou a inédita e inesperada medalha de bronze há quatro anos, em Londres, a pernambucana passou a entrar no radar dos dirigentes brasileiros. Nessa sexta-feira, porém, Yane acabou não conseguindo recuperar a má exibição na esgrima, ontem, e terminou sua terceira participação olímpica na 23ª colocação.

O resultado ruim se deu, basicamente, pelo desempenho abaixo do esperado da pentatleta na esgrima, primeira das cinco modalidades que são disputadas no evento. Na quinta-feira a brasileira acabou na 21ª colocação após suas lutas. 

Isso fez com que Yane chegasse à natação, segundo evento do pentatlo, com a necessidade de fazer um bom tempo. E ela fez, acabou na nona colocação dos 200m livre e foi para a rodada bônus da esgrima em 16º lugar, melhorando algumas posições. 

A intenção da brasileira e de seus técnicos era que ela conseguisse vencer pelo menos quatro lutas na rodada extra. Inserida pela primeira vez na Rio 2016, essa rodada se dá pela luta da 36ª colocada com a 35ª e quem for vencendo vai encarando a rankeada subsequente. Cada luta vencida é um ponto somado.

Chloe Esposito (Austrália) ficou com o ouro, Elodie Clouvel (França) com a prata e Oktawia Nowacka (Polônia) com o bronze / Foto: Rob Carr / Getty Images

Yane não foi bem e perdeu logo na primeira luta, sem somar nenhum ponto no rankeamento geral. Para o hipismo, evento seguinte, a brasileira pegou um cavalo difícil, que havia derrubado a competidora que montou antes dela. Yane, porém, fez uma apresentação regular, com 14 penalidades, na 17ª colocação. 

Finalmente, no evento combinado, a brasileira acabou largando 67s (o tempo é definido com base na quantidade de pontos que cada competidora está atrás da líder) depois da primeira colocada e não conseguiu tirar a diferença durante o percurso, que consta de quatro momentos de tiro e quatro corridas de 1km cada. 

Mesmo com o resultado ruim, a pernambucana exaltou, ao final da prova, sua história no esporte e disse que não há motivo para tristeza.

"Eu poderia ter feito uma esgrima bem melhor, nos renderia um resultado muito bom, mas eu acho que o pódio seria muito difícil diante dos bons resultados que elas fizeram. Eu fiz o meu melhor realmente, infelizmente a gente não sai com medalha materializada no metal, mas eu tenho um troféu que é uma vida dedicada ao esporte, de abnegação, eu abri mão da minha família para estar aqui hoje. Então eu não tenho porque ficar triste, eu já fui medalhista olímpica. Tudo valeu a pena", avalia a atleta. 

Yane lotou, nesta sexta-feira pós feriado, o Parque Olímpico de Deodoro, com milhares de pessoas, incluindo muitas famílias, com crianças. "A gente ter lotado isso aqui, para assistir um esporte que até pouco tempo ninguém sabia nem o que era, valeu a pena. Eu tenho contribuição nisso aqui. Eu curti, senti a energia. A torcida me impulsionou muito. Elas [as outras atletas] comentaram, ficavam falando ‘Yane, aproveita. Isso é tudo para você, para o nosso esporte isso é muito bom’", afirma. 

Atleta das Forças Armadas desde 2009, Yane admite que o esporte hoje, no Brasil, é inacessível para quem quer começar a praticá-lo.

"A gente tem um material humano absurdo de bom. Talvez precise dar essa oportunidade para as pessoas. Muita gente quer fazer pentatlo mas o que que faz? Não é simples. Tem que fazer uma seletiva, ser escolhido ou ter muita grana para pagar um treino de equitação, corrida, natação. Ainda não é um esporte muito acessível. Eu queria muito que essa geração Yane acabasse e fosse substituída por gerações melhores", espera a atleta. 

Yane Marques foi a porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura da Rio 2016 / Foto: Cameron Spencer / Getty Images

Perguntada se a Rio 2016 foi sua última Olimpíada, Yane disse que ainda não sabe. Ela, que disputa ainda o mundial militar em um mês, disse que fará de 2017 um ano teste para saber se consegue ou não viver sem o pentatlo moderno.

"Eu tenho 32 anos, sou atleta desde os 12. São 20 anos de treino. Isso significa você não ter um final de semana, não poder dormir tarde, não poder fazer extravagância, comer não sei o que. É muita coisa que às vezes faz você pensar se eu consigo encarar isso. Para dizer que eu vou para Tóquio para ir, eu não vou. Eu vou se eu for competitiva. Se eu perceber que a coisa não tem o mesmo sentimento, eu acho que o legado que eu deixei para esse esporte valeu a pena", declarou a medalhista de bronze em Londres 2012.

E o legado Yane espera que se estenda pelas próximas gerações. E que, se ela optar por não mais competir, possa ajudar os jovens que queiram começar ou que já estão no pentatlo, de alguma forma. 

"Eu acho que eu tenho muito para contribuir para essa garotada jovem. Eu quero passar tudo o que eu aprendi, eu acho que eu tenho muito a dividir com as pessoas", emenda a brasileira, que sonha em ver seu esporte mais popular.

"Que a partir daqui meia dúzia de crianças segunda-feira vá perguntar como que faz para treinar pentatlo. A gente tem um ótimo material humano, precisa explorar isso", finaliza.
 
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