Robert Scheidt e Torben Grael: 10 medalhas olímpicas em Ilhabela

Bruno Prada e Robert Scheidt / Foto: Rolex/Carlo Borlenghi

Ilhabela - "Se ao ganhar uma regata você perde o respeito de seus adversários, então você não é um vencedor". A frase é do dinamarquês Paul Elvström, embaixador Rolex, maior ícone da Vela mundial, único velejador a conquistar quatro ouros olímpicos consecutivos. Na centenária história da Vela desde o Barão de Coubertin, apenas três velejadores têm mais medalhas que Elvström, e dois deles estão na Rolex Ilhabela Sailing Week: Robert Scheidt e Torben Grael. Cada um é dono de cinco medalhas e ambos contam com respeito de uma legião de amigos e adversários.
 
Torben Grael e Robert Scheidt têm décadas de participação na competição e são especialistas nos segredos da raia de Ilhabela. Torben aparece como campeão já em 1985, no comando do veleiro Saci. Nos anos 90, ele dominou a raia com o lendário ILC 30 Magia. Scheidt, que tem casa na ilha e é praticamente um local, foi campeão há apenas dois anos, na classe HPE, e lembra com carinho de sua primeira participação, em 1983. "Era emocionante encontrar lado a lado com meus ídolos, que na época eram o Claudio Biekarck, que depois virou meu técnico, e o Alex Welter, primeiro brasileiro campeão olímpico".
 
Além do recorde nas Olimpíadas, ambos compartilham outras conquistas. Scheidt foi eleito duas vezes o melhor velejador do mundo, Isaf Rolex Sailor of the Year, em 2001 e 2004. Torben foi homenageado em 2009. O que pouca gente sabe é que os dois já competiram e venceram juntos, no mesmo barco, o italiano Luna Rossa. Em 2009, a dupla venceu a Rolex Middle Sea Race, regata de 606 milhas náuticas no Mediterrâneo e também conquistou um terceiro lugar na Maxi Yacht Rolex Cup, que reúne os maiores e mais impressionantes veleiros de competição do planeta.
 
Neste ano em Ilhabela, Torben é o comandante do S40 Magia V/Energisa, que abandonou a competição na terça-feira (9), devido a uma quebra no mastro. Robert Scheidt segue na disputa e é o líder na classe Star, ao lado de Bruno Prada, seu proeiro nos últimos dois pódios olímpicos, prata em 2008 e bronze em 2012. 
 
Admiração mútua - Torben Grael foi o primeiro velejador da história a colecionar cinco pódios olímpicos. Mesmo assim, considera Robert Scheidt "sem dúvida, o melhor velejador olímpico do Brasil". Scheidt, por sua vez, reconhece Torben como "o velejador mais completo do país, capaz de brilhar tanto nas regatas curtas como na America's Cup ou na Regata Volta ao Mundo".
 
Talento, dedicação e apoio em casa - No extenso currículo de vitórias de Torben Grael, os primeiros campeonatos mundiais juvenis, na classe Snipe, vieram ao lado do irmão, Lars. Os tios Erik e Axel, primeiros campeões mundiais brasileiros, serviram de inspiração para o jovem Torben. O apoio da família e amigos foi fundamental. Especialmente para Toben, que triunfou em uma época em que a Vela profissional nem existia no Brasil.
 
"O Robert é excepcional. Graças ao Robert, eu já alcancei muito mais do que imaginei que fosse conquistar em minha carreira", conta Bruno Prada, proeiro de Robert na Star e adversário nas regatas de HPE. "O Torben, além do excelente velejador que é, precisou correr atrás de toda a estrutura para poder sustentar sua carreira internacional".
 
Para Lars Grael, irmão de Torben, ele próprio dono de dois bronzes olímpicos e que este ano corre em Ilhabela contra Robert na Star, ambos campeões "são atletas completos e de muito talento". E completa, dizendo que a dupla chegou onde chegou "graças a muita determinação, amor pelo esporte, apoio das famílias e, principalmente, pelo esforço e dedicação".
 
Fazer tudo com prazer - Outra coincidência nos currículos de Torben e Scheidt é que ambos foram também atletas de tênis na infância. "Mas foi na Vela que encontrei o esporte completo", revela Scheidt. Para ele, um dos segredos do sucesso é fazer tudo com prazer e ter metas graduais. "Eu penso em um objetivo depois corro atrás. Sempre uma coisa de cada vez, que eu vou trabalhando ao longo do ano".
 
As dez medalhas de Torben e Robert ensinaram que enfrentar parceiros duros e fazer as parcerias certas é essencial para o sucesso. Tanto Torben como Robert tiveram de enfrentar os melhores do mundo antes de conquistarem a vaga olímpica. Em 1984, Torben desbancou o campeão mundial Gastão Brun na seletiva para os Jogos de Los Angeles. Oito anos depois, em 1992, foi a vez de Robert Scheidt derrotar o então campeão mundial Peter Tanscheit para garantir seu lugar na raia de Barcelona.
 
As 10 medalhas 
 
Robert Scheidt
1996 - Ouro na classe Laser (Atlanta)
2000 - Prata na classe Laser (Sydney)
2004 - Ouro na classe Laser (Atenas)
2008 - Prata na classe Star (Qingdao)
2012 - Bronze na classe Star (Londres)
 
Torben Grarel
1984 - Prata na classe Soling (Los Angeles)
1988 - Bronze na classe Star (Seul)
1996 - Ouro na classe Star (Atlanta)
2000 - Bronze na classe Star (Sydney)
2004 - Ouro na classe Star (Atenas)
 
Encontro de gerações - Em Ilhabela se encontram futuros e antigos campeões. Aos 71 anos, Boris Ostergren compete na classe HPE e tem a honra de ter vencido o próprio Paul Elvström em seu país, a Dinamarca, no Mundial de Snipe, em 1977. Também aos 71 anos, Reinaldo Conrad, primeiro medalhista olímpico brasileiro (bronze, em 1968, na Flying Dutchman) é apontado por Robert Scheidt como um dos principais nomes da Rolex Ilhabela Sailing Week. 
 
Na outra ponta está a nova geração, como Marco Grael, filho de Torben e a irmã Martine Grael, vice-campeã europeia de 470, Tommy Sumner e Felipe Brito, bicampeões mundiais juvenis de Lightning e Fernanda Decnop, bicampeã mundial militar, entre outros. Com muitas famílias na água e velejadores-mirins em alguns barcos, tudo indica que o material humano está garantido para mais 40 anos de Rolex Ilhabela Sailing Week.