Brasil exorciza fantasma de Londres, despacha Rússia e vai em busca do ouro olímpico

Brasil chega a sua quarta final olímpica consecutiva / Foto: Patrick Smith / Getty Images

Rio de Janeiro – O time de vôlei masculino do Brasil chegou à Rio 2016 com certa desconfiança. Além de não ter empolgado na fase de grupos, tendo se classificado apenas no último jogo, a equipe de Bernardinho desse ciclo olímpico não é mais a mesma daquela que chegou à final em Londres 2012.
 
Mas nessa sexta-feira ela teve que enfrentar um desafio igual, pela fase semifinal do torneio olímpico: a mesma Rússia que, na decisão do ouro em Londres, viu o Brasil ganhar os dois primeiros sets e desperdiçar dois match points no terceiro, entregando de bandeja o título olímpico aos russos.
 
Dessa vez, porém, Bruninho já tinha avisado, na vitória das quartas de final, contra a Argentina, que a Rússia precisaria dar o sangue para derrotar o Brasil dessa vez. E nem assim a atual campeã olímpica conseguiu parar o time de Bernardinho, impecável e surpreendente em quadra.
Bruninho comemorou muito a vitória sobre a Rússia / Foto: Patrick Smith / Getty Images
 
O primeiro set começou com o Brasil extremamente ofensivo, com destaque para Wallace e um saque preciso e violento (não à toa a bola mais rápida do jogo foi do Brasil, a 122 km/h). Os brasileiros estiveram à frente praticamente todo o set e conseguiram abrir uma vantagem de seis pontos na reta final do set. Nem com dois set points salvos a Rússia conseguiu evitar a derrota por 25 a 21.
 
"Foi o mais regular, o que a gente errou menos, fez mais sequência em saque, mais break point, e principal de tudo não enfrentou tanto bloqueio porque a gente sabia que do outro lado era uma dificuldade muito grande. Eles erram muito, são mais grossos, têm a força física como principal, então a gente jogou inteligentemente, deixando a responsabilidade para eles", analisou Lucão no fim do jogo.
 
Os russos voltaram com força total no segundo set. Mesmo sem o central Muserskiy, que fez a festa contra o Brasil na final de Londres, o time do técnico Vladimir Alekno quis mostrar que não seria fácil.
 
À frente do placar até mais da metade do set, a Rússia viu o time comandado por Bernardinho se impor em quadra, com aces e bolas de ataque que surpreendiam a defesa russa, como as do ponteiro Lipe, saído da linha de fundo. O resultado foi nova vitória da equipe brasileira, por 25 a 20.
 
O terceiro set veio e com ele o fantasma do título olímpico perdido em Londres 2012, quando o Brasil também vencia a Rússia por dois sets a zero, perdeu duas chances de concluir a partida no terceiro set e viu os russos virarem o jogo e serem campeões olímpicos.
 
O Esporte Alternativo perguntou ao meio de rede Lucão se aquela lembrança maldita veio à cabeça nesse momento do jogo. "Ah, um pouquinho sim. Quando estava 5 a 1 para a gente, eles empataram em 7 a 7 ficou complicado [no terceiro set]. Eu falei, sozinho no banco lá, ‘pô, de novo, não, não vamos dar mole para o azar como a gente fez da outra vez’. Mas acho que a gente jogou bem, fez uma boa partida, dominou do começo ao fim todos os quesitos e é isso que importa", avaliou o jogador.

Brasil encara agora a Itália pelo ouro / Foto: Patrick Smith / Getty Images

De fato dessa vez o Brasil era outro time em quadra. Talvez pelos desfalques russos, mas o fato é que nada tira o mérito de quatro saques consecutivos de Wallace (incluindo um belo ace) ou do bloqueio intransponível da seleção.
 
Diante de uma Rússia já abalada em quadra, com sete pontos atrás do placar e com um Brasil a apenas dois de mais uma final olímpica, faltava mesmo só fechar o caixão. 
 
Um Maracanãzinho lotado e de pé viu a destemida Rússia dar de bandeja o penúltimo ponto do Brasil no jogo (nem mesmo um desafio solicitado pela equipe de Alekno, de que a bola teria tocado no bloqueio brasileiro, teve sucesso). Aos gritos de “o campeão voltou”, e com os torcedores de pé, a seleção expurgou o fantasma de Londres, vencendo o terceiro set por esmagadores 25 a 17.
 
"Eu passei muito tempo lembrando disso [a derrota em Londres], mas a felicidade hoje era ir para mais uma final. Tecnicamente a gente jogou muito bem, o time sacou forte e errou muito pouco",  declarou Lucarelli, que jogou a partida toda com dores na coxa mas não quis ficar de fora. 
 
Como mudar a história contra a Itália?
 
O Brasil encara na final a seleção italiana, a mesma para a qual perdeu na fase de grupos, por 3 sets a 1. Os jogadores, porém, já sabem como atuar para, dessa vez, despachar os italianos: encaixar um saque forte.
 
William brinca com sua filha após a vitória / Foto: Patrick Smith / Getty Images
"Tentar anular taticamente e manter essa pressão no saque", afirma Lucarelli. "É uma partida contra um time que tem definido muita coisa no saque. Os centrais têm um papel muito grande em termos de bloqueio, no meu ponto de vista foi a equipe mais regular nessa Olimpíada, então com certeza vai ser uma partida muito complicada. A gente vai ter que forçar o saque e vai ter que entrar", emenda Lucão.
 
"Os caras estão sacando muito bem e bloqueando. É a arma que a maioria das seleções estão fazendo para jogar contra a gente é sacar bem e bloquear bem. A gente vai ter que ter muita sabedoria e sacar muito bem. Vamos ter que ligar o estado de alerta, jogar pressionando eles", continua Serginho. 
 
Wallace acha que é preciso atentar para o bloqueio dos italianos. Nessa semifinal, o Brasil evitou atacar no meio, pois sabia que o block era uma das armas dos russos.
 
"A Itália é um time com volume muito grande, bloqueio a gente tem que tomar bastante cuidado e paciência, a consciência que a gente teve nesse jogo a gente vai levar para o próximo. É fundamental", avalia. "A gente tem que rever nossos erros no primeiro jogo contra eles, e essa semifinal deles que foi bem acirrada né, difícil para eles, e tirar os pontos fracos deles", finaliza Maurício. 
 
O Brasil chega à sua quinta final olímpica consecutiva no vôlei masculino. Depois do ouro em Atenas 2004 contra a mesma Itália e as duas pratas em Pequim 2008 e Londres 2012, a seleção encara a Itália, valendo o ouro, no próximo domingo, às 13h15. Essa será a última chance de medalha de ouro do Brasil nas Olimpíadas Rio 2016. 
 
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