Pepê faz história e é melhor fora da Europa: "dia mais feliz da vida"

Pepê comemora descida impecável na final do K1 slalom / Foto: Jamie Squire / Getty Images

Rio de Janeiro - Os 18º C que faziam no Estádio de Canoagem Slalom, no Parque Radical, em Deodoro, somados às fortes e cortantes rajadas de vento, contrastavam com o calor que Pedro Henrique Gonçalves da Silva, o Pepê, transmitia. 

Depois de se classificar à semifinal, o canoísta brasileiro voltou ao circuito de obstáculos da canoagem slalom nesta quarta-feira, para as fases decisivas do K1 (kaiaque com uma pessoa). E para um esporte que ainda é desconhecido da maioria do público, Pepê fez história, em frente às milhares de pessoas que o acompanhavam das arquibancadas, mesmo com a chuva que volta e meia caía. 

O brasileiro sofreu para se classificar à final, é verdade. Passou em 10º lugar, na linha de corte para a fase que valeria medalhas. Ainda assim, passou pela zona mista e disse à imprensa que iria para a final, dali a pouco, acreditando: "Eu sou Brasileiro. Eu acredito", disse o atleta, rapidamente, para depois ir se preparar para a final. 

O italiano Giovanni de Gennaro se revoltou após saber que tinha descido pior que Pepê / Foto: Jamie Squire / Getty Images

Na fase final, Pepê competiu entre os 10 melhores canoístas da prova no mundo. Para se ter ideia, fora ele e o neozelandês Mike Dawson, todos os outros oito eram da Europa. 

Como foi o décimo na semifinal, o brasileiro teve a sorte - ou o azar, a depender da interpretação -, de ser o primeiro a cair na água. E não decepcionou: diminuiu em aproximadamente dois segundos o seu tempo (fez 91s54, sem penalidades) da semi e jogou toda a pressão para os outros nove adversários que cairiam no circuito depois dele. 

A partir de então foi emoção pura. Na arquibancada, na zona mista de imprensa, entre os voluntários, estavam todos apreensivos. E não era à toa, todos os outros nove que viriam tinham tempos melhores que o de Pepê e poderiam facilmente mantê-lo em décimo lugar. 

O italiano Giovani de Gennaro foi o primeiro a descer depois de Pepê e acabou surpreendendo: fez 91s77, tempo maior que o de Pepê. Se revoltou, jogou o remo na frente do caiaque, passou pela imprensa correndo e nervoso. Pepê era primeiro.

O terceiro a cair na água, o francês Sebastian Combot, fez ainda pior: foi penalizado ao tocar em uma das balizas do circuito. Pepê permanecia em primeiro, para delírio do público. O russo Pavel Eigel, canoísta seguinte, depcionou igual e manteve Pepê na liderança na briga pelo ouro. A essa altura, o brasileiro, que não saiu da água em nenhum momento da final, já estava eufórico, pelo menos por dentro. 

"Foi difícil para o coração. Eu acho que não tenho nada no coração, está tudo certo (risos). Porque eu fui o primeiro a descer, fiz um tempo muito bom, e a cada um que passava, que não batia o tempo a torcida vibrava, eu vibrava. Não comemorava porque é antiético, mas por dentro, lógico, você tem a esperança da medalha", contou Pepê.

Pepê parabeniza o campeão olímpico, da Grã-Bretanha, Joseph Clarke, de quem é amigo / Foto: Jamie Squire / Getty Images

A partir de então o que era previsto aconteceu, os atletas seguintes, à exceção do neozelandês, acabaram se superando um depois do outro e o ouro acabou indo para o britânico Joseph Clarke, deixando os favoritos Peter Kauzer, da eslovênia, e Jiri Prskavec, da República Tcheca, com prata e bronze, respectivamente. 

Pepê acabou em sexto lugar, quatro posições melhor do que sua classificação às finais. Um resultado histórico para a modalidade no Brasil, que nunca sequer tinha chegado à uma final olímpica. Ao passar pela zona mista, agora com mais calma, o brasileiro irradiava alegria.

"A gente está numa final olímpica porque a gente merecia, a gente podia buscar a medalha. Entre os dez ali todos tinham condições de buscar a medalha. Mas eu pedi antes da minha descida pra Deus pra eu fazer o meu melhor, desfrutar cada segunda dessa energia que o público me proporciona, essa energia que a água me proporciona, e ser feliz", afirmou, emocionado.

Questionado pelo Esporte Alternativo sobre o fato de ele ser, com esse resultado, o melhor canoísta do mundo fora da Europa, Pepê foi humilde. "Eu já tinha sido vice-campeão dos Jogos Pan-Americanos de Toronto, com o melhor tempo e uma falta ali, mas enfim, estou feliz de estar na final olímpica, estar entre os melhores, de poder ajudar a realidade do esporte no meu país, e tornar o esporte mais conhecido e reconhecido do Brasil", disse.

"A medalha não saiu mas o sexto lugar sem dúvidas é histórico e tem o gostinho dourado. Estou muito feliz. Hoje é o dia mais feliz da minha vida", finalizou. 

O da canoagem slalom brasileira também, Pepê.

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